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Produção cresce em meio a gargalos

Regiões mais prósperas do país enfrentam falta de estradas, energia elétrica e comunicação, mas não desistem de plantar.

A infraestrutura não tem conseguido acompanhar o ritmo de expansão do agronegócio nas terras mais prósperas do Brasil, localizadas no Centro-Norte. Ao percorrer esse pedaço do país conhecido por MaToPiBa – formado por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – nas últimas duas semanas, a Expedição Safra Gazeta do Povo sentiu na pele as dificuldades de infraestrutura enfrentadas por agricultores, em sua maior parte imigrantes do Sul do Brasil. A logística de escoamen­­to da produção agrícola, de comunicação, de mão-de-obra e de energia elétrica desafiam diariamente os habitantes dessa região.

Enquanto Maranhão, To­­cantins e Bahia pedem a revitalização de estradas vicinais, mas principalmente a ampliação da capacidade de recebimento de grãos no Porto de Itaqui, em São Luis (Maranhão), o Piauí é construído praticamente pelos braços dos produtores locais. O estado lidera o aumento da área cultivada com grãos nos últimos anos e vive hoje as condições mais precárias de infraestrutura do Centro-Norte brasileiro.

Sem asfalto, a rodovia Transcerrados, principal ligação entre as regiões produtoras e os centros de consumo piauienses, piora a cada safra. Para viabilizar um projeto de pavimentação, o governo estadual planeja pedagiar a via, que terá 330 quilômetros de extensão, numa parceria público-privada. De acordo com cálculos da Aipeq, Associação de Produtores da região da Serra do Quilombo – criada neste ano com o propósito de levar as demandas de estradas ao poder público – 760 mil toneladas de produtos, entre grãos e insumos para o campo, transitam por esse que é o único acesso entre a região e o município de Bom Jesus. Em média, 81 cargas são transportadas por essa via diariamente.

Não adianta mais usar trator da fazenda para melhorar a estrada. Os remendos duram menos de uma semana, porque o tráfego aumentou e porque nossas máquinas não são apropriadas para isso”, diz o agricultor Leivandro Fritzen, um dos pioneiros da Serra do Quilombo e presidente da Aipeq. “A hora de trabalho aqui é muito cara”, complementa Nereu Dall Aglio, agricultor que neste ano amplia de 7,7 mil hectares para 9 mil hectares o terreno destinado à soja de verão e que tira máquinas do plantio para socorrer carretas na estrada. Os representantes do governo do Piauí prometem visitar a Serra do Quilombo, uma das mais produtivas do estado.

Sinal de telefonia móvel, internet e até mesmo energia também são artigos de luxo nesse ponto do país. Com a ação do vento, postes que sustentam a rede de energia elétrica caem, cortando a comunicação da região com o mundo e deixando as fazendas sem luz. É a hora de os geradores movidos a diesel entrarem em ação.

Já ficamos uma semana sem energia e telefone, esperando técnicos consertarem a rede”, diz Fritzen no momento em que recebe a informação de que dezenas de postes haviam caído na noite anterior. “Todo dia é desse jeito”, resume ele.

Apesar das dificuldades, a safra cresce no Centro-Norte brasileiro. Responsável por mais de 10% da produção nacional de soja, a região ainda está longe de colher volume condizente com seu potencial, constatou a Expedição Safra. “”, avalia Ari Marcolin, um produtor de Cascavel que acaba de comprar mais 500 hectares de terras na comunidade de Nova Santa Rosa, fundada por gaúchos e paranaenses. Ele e seus filhos Wilson, Giovani e Flávio, que atuam na região, pretendem investir cada vez mais na atividade de forma estratégica. “O Paraná tem preços melhores na colheita. No Piauí, é no segundo semestre, por causa das granjas locais”, compara seu Ari.

Norte-Sul precisa de mais obras

A ferrovia Norte-Sul – obra federal lançada há duas décadas e meia que promete mudar o fluxo da produção de grãos do Brasil – vai demorar mais tempo que o previsto para ficar pronta. A Expedição Safra acompanha todo ano a ampliação dos trilhos e constata que as linhas não chegam às regiões produtoras no tempo previsto e, quando chegam, custam dar vazão à safra.

Nesta temporada, quando praticamento todo o estado de Tocantins deveria estar se beneficiando da estrutura, houve revisão nos índices que mostram o estágio da obra. Os novos relatórios mostram que o caminho a ser percorrido na construção das vias férreas é mais longo.

Os trechos entre Palmas (TO) e Uruaçu (GO) e Anápolis (GO), que até o último relatório oficial apareciam com mais de 90% das obras concluídas, agora aparecem com 89% (-4,5 pontos) e 87% (-11,9 pontos), respectivamente. O recuo foi atribuído pelos construtores à inclusão de obras cuja necessidade não foi prevista.

Com previsão de 2,3 mil quilômetros de extensão e custo de R$ 8 bilhões, a ferrovia Norte-Sul vem sendo implantada pela Valec, empresa pública do Ministério dos Transportes detentora da concessão para construção e operação da ferrovia. Denúncias de corrupção pioram o quadro. A prisão do ex-presidente da Valec José Francisco das Neves, acusado de comandar desvio de mais de R$ 100 milhões das obras da Norte-Sul, levou o governo federal a suspender as obras, retomadas recentemente.

Da extensão total, 1,17 mil quilômetros teriam sido concluídos. Conforme a obra avança, os custos também aumentam. As obras complementares entre Tocantins e Goiás estão consumindo R$ 270 milhões.

Fonte: Gazeta do Povo 

postado em 05/12/2012


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