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Prioridade do Banco Central é reduzir inflação
Presidente Alexandre Tombini do BC afirma em entrevista ao The Wall Street Journal que o combate a inflação e que o crescimento não é uma meta da instituição.
A prioridade do Banco Central é combater a inflação e não estimular o crescimento, disse seu presidente numa entrevista dias antes da reunião do Comitê de Política Monetária para definir a taxa básica de juros, apesar das dificuldades da economia brasileira de interromper um longo ciclo de crescimento lento.
A economia do Brasil cresceu 1% em 2012, bem menos que os 7,5% de 2010. Ao mesmo tempo, a inflação anualizada bateu em 6,2% em meados de fevereiro, perto do máximo que o governo havia dito que permitiria. Analistas dizem que a percepção de que há políticas conflitantes para estimular a economia do país e conter a inflação causou confusão no mercado e valorizou o real consideravelmente em poucos meses.
"Nossa meta é a inflação, então temos que ajustar e calibrar nossas políticas para atingir nossos objetivos", disse Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, ao The Wall Street Journal. "O crescimento não é uma meta do Banco Central."
Embora poucos economistas esperem que o BC eleve a taxa de juros, que está no mínimo histórico de 7,25% ao ano, quando Tombini e outros membros do Copom se reunirem na próxima semana, alguns dizem que o banco poderia sinalizar que está cogitando elevar os juros no futuro se a inflação continuar ameaçando. "A inflação nos últimos meses se mostrou mais resistente do que gostaríamos", disse Tombini no sábado. "Estamos monitorando os desdobramentos atentamente." Os mercados provavelmente verão com bons olhos qualquer sinal de que o BC está atacando a inflação, dizem os analistas.
O governo "concluiu que a percepção da credibilidade da política [econômica] estava muito baixa e começou a se esforçar para tentar resolver isso", disse David Beker, economista para o Brasil do Bank of America Merrill Lynch, em São Paulo.
Essas preocupações levaram alguns investidores estrangeiros a preferir outros mercados emergentes, inclusive o México, complicando as tentativas do Brasil de elevar o investimento a caminho da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. A bolsa brasileira caiu 3% no mês até agora, sendo que havia despencado 20,5% nos últimos 12 meses, segundo a MSCI.
"É por isso que o desempenho do Brasil está baixo", diz Kathryn Rooney Vera, estrategista de macroeconomia da Bulltick Capital Markets. "Política de risco é importante [devido ao] perigo do descontrole inflacionário e dos danos que ele pode causar."
Tombini disse que a inflação permanece teimosamente alta por causa do aumento dos preços dos alimentos no ano passado e da desvalorização acentuada do real, que caiu 10% em relação ao dólar em 2012. Ele disse que não espera que a moeda tenha o mesmo comportamento este ano. "Não vejo o mercado afetando o real da mesma forma", disse ele.
O Brasil tem estado à frente da chamada guerra cambial, em que bancos centrais do mundo todo estão tentando enfraquecer suas moedas para manter suas economias competitivas. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi um dos primeiros a usar o termo, em 2010, depois da crise financeira, e o governo vem adotando controles específicos de capital para reduzir a entrada de recursos.
Mas Tombini disse que o Brasil tem problemas mais graves para resolver. "Não creio que o Brasil deva entrar nesta guerra no momento", disse.
O BC brasileiro fez intervenções no mercado para manter o câmbio na faixa de R$ 2,00 a R$ 2,10 o dólar durante boa parte do segundo semestre de 2012. A moeda brasileira, contudo, vem oscilando entre cerca de R$ 1,95 e R$ 2,14 por dólar desde dezembro, o que fez alguns investidores cogitarem que o BC estaria usando o câmbio como ferramenta de política monetária para ajudar a economia a se recuperar e para combater a inflação. Tombini disse que esta é uma ideia equivocada.
"Nada disso é a realidade", disse ele. "[A] taxa de câmbio não é um instrumento nem para combater inflação nem para promover um crescimento econômico sustentável." O BC pode intervir no mercado de câmbio para impedir uma volatilidade excessiva da moeda, acrescentou ele.
Taxas de juros baixíssimas no mundo desenvolvido e programas de compras de ativos de alguns importantes bancos centrais, inclusive o americano, resultaram numa enxurrada de liquidez nos mercados financeiros globais - provocando grandes fluxos de capital para países de juros altos, como o Brasil.
Apesar dessas iniciativas, "o crescimento [mundial] continuará lento por um tempo", disse Tombini, acrescentando, porém, que ele vê menos riscos de um choque na economia mundial.
Autoridades em todo o mundo, entretanto, terão que garantir que a reversão dessas políticas de relaxamento monetário e o enxugamento do excesso de liquidez ocorram sem problemas.
"A preocupação daqui para frente será como o mundo vai sair desta [...] nova ordem", disse ele.
Fonte: site Valor Econômico
postado em 25/02/2013