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Custo do trabalho na indústria cresce 6,6% em 2012, maior alta em 11 anos

Combinação de queda de 0,8% na produtividade com aumento médio real nos salários de 5,8% produziu alta recorde no custo da mão de obra.

Apesar do recuo no emprego e de todas as medidas de incentivo adotadas pelo governo, o custo do trabalho na indústria brasileira registrou um aumento recorde em 2012. A alta de 6,6% apurada pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) foi a maior em 11 anos, desde que a pesquisa começou a ser feita - e foi o dobro do aumento verificado em 2011, de 3,2%.

O aumento dos gastos da indústria com seus empregados é contínuo e pega o setor num momento de fragilidade. Aliado a serviços precários de infraestrutura e impostos muito altos, a alta no custo do trabalho ajuda a tornar o produto brasileiro caro demais para competir com os artigos estrangeiros, dentro do Brasil e no exterior.

Como consequência, o setor patina há dois anos. No ano passado, a produção caiu 2,7%, depois de ter crescido 0,4% em 2011. Somando os últimos resultados, é como se a indústria estivesse parada há quatro anos. Em 2012, o governo adotou algumas medidas para melhorar a competitividade. Cortou a conta de luz, reduziu impostos sobre salários, mexeu no câmbio e baixou os juros. Para os industriais, ainda não é suficiente.

Em suas contas, o Iedi leva em consideração dois fatores. Os salários, que tiveram aumento médio real de 5,8%. Mesmo apertada pela competição com os importados a indústria reajustou salários porque disputa mão de obra com o comércio e prestadores de serviços.

O outro item é a produtividade, medida para verificar quanto a indústria consegue produzir com seus empregados. No ano passado, a produtividade caiu 0,8% - segundo pior resultado desde 2002, só superado pela retração de 2,2% em 2009.

"A produtividade é o principal determinante da competitividade da indústria, tanto no mercado interno como no exterior", diz o economista Daniel Keller, consultor do Iedi. São os ganhos de produtividade que permitem às empresas absorver aumento de custos, incluindo salários, sem repassá-los aos preços.

A baixa produtividade na indústria é fruto da falta de investimento das empresas em pesquisa e desenvolvimento, além da deficiência da infraestrutura e dos impostos. "O câmbio também é extremamente relevante", ressalta o consultor do Iedi.

A produtividade sempre cai em anos em que a economia cresce abaixo do potencial, observa Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores. "A indústria não demite na mesma proporção da queda da produção por causa dos custos de demissão e da contratação, quando a economia voltar a crescer."

No ano passado, o emprego caiu 1,4%, enquanto a produção recuou 2,7% e as horas pagas, 1,9%. Em 2011, o emprego havia crescido 1% com a produção estagnada. Com a queda de 2012, a indústria está produzindo a mesma quantidade de 2008, início da crise global. "Se não houvesse rigidez no mercado de trabalho, não fosse difícil encontrar mão de obra qualificada nem tivesse custo para treinar essa mão de obra, a indústria teria demitido muito mais nesse biênio para manter o nível de produtividade", diz Borges.

Aquecimento. Mesmo com uma produção fraca, a indústria concedeu aumento real de salários para não perder trabalhadores treinados para outros setores da economia, principalmente o de serviços. "Os acordos salariais nos levaram a dar praticamente 4% acima da inflação em 2012, naquilo que os sindicatos chamam de aumento de produtividade. Só que a produtividade não existiu", queixa-se o empresário Corrado Vallo, sócio da Omel, fabricante de bombas e compressores de São Paulo.

Para especialistas, a elevação do custo do trabalho se deve também ao aquecimento no mercado de trabalho, provocado pelo aumento da demanda, estimulada pelo governo. A política de valorização do salário mínimo também pressiona os salários. Para empresas como a M Dias Branco, líder nos mercados de biscoitos e massas alimentícias, no entanto, o aumento do custo do trabalho também significa aumento de demanda. "Nossas vendas têm crescido bastante, porque o aumento do salário mínimo ampliou o poder de compra", diz Geraldo Mattos Júnior, vice-presidente da empresa.

Ritmo pode diminuir, mas pressão sobre a indústria vai continuar

O custo do trabalho tende a continuar pressionando a indústria em 2013, embora num ritmo um pouco menor que o registrado no ano passado. Para Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, a produção deve crescer 3,5%. "Só que provavelmente a gente vai ver o emprego industrial meio que andando de lado, porque o setor tem uma certa ociosidade dos trabalhadores que ele reteve nos dois últimos anos", diz o economista.

Além disso, o setor terá um alívio por causa das medidas de desoneração da folha de pagamentos. Para 15 setores, a desoneração entrou em vigor só a partir de agosto de 2012 e para outros 27 setores ela começou a valer em janeiro deste ano. "É um alívio importante de custo para as empresas", diz Borges.

Mesmo assim, a perspectiva continua sendo negativa para a indústria, afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. "Continua havendo demanda forte e oferta limitada de mão de obra qualificada, que é mais necessária para a indústria do que para os serviços."

Ele lembra que o crescimento da demanda por trabalhadores mais qualificados fez subir o salário geral dessas pessoas. "O impacto tem sido maior para a indústria, porque o mundo ficou muito mais competitivo justamente no trabalho", argumenta. Por isso, ele acredita que o País vai continuar tendo dificuldade de exportar.

Fonte: site O Estadão 

postado em 25/02/2013


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